Dois únicos técnicos negros do Brasileirão escancaram o racismo: “Negar e silenciar é confirmá-lo” Roger Machado, treinador do Bahia, proferiu discurso antológico no Maracanã
30/12/2019 08:24 em Notícias

 

“Eu sei o que estou representando, como técnico do Fluminense, para as pessoas da nossa cor”, afirmou Marcão às vésperas do jogo no Maracanã. “Temos outros negros com capacidade para trabalhar no futebol, mas, muitas vezes, o que falta é oportunidade. Estou aqui porque eu me preparei e quero contribuir para que mais profissionais capacitados recebam essa chance de mostrar seu potencial.”

Enquanto Marcão, 47, ex-auxiliar, foi efetivado no comando do Fluminense após a demissão de Oswaldo de Oliveira, Roger Machado, 44, já havia tido experiências como treinador de clube grande no Grêmio, Atlético Mineiro e Palmeiras antes de chegar ao Bahia, em abril. Apesar do prestígio no mercado, ele faz questão de se posicionar sobre a discriminação racial em postos privilegiados de trabalho.

“Negar e silenciar é confirmar o racismo”, disse o técnico durante uma contundente entrevista coletiva depois da derrota de seu time para o Fluminense. “Minha posição como negro na elite do futebol condiz com isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou ao restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: ‘Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui’. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui.”

Para Roger, a escassez de técnicos negros no futebol reflete o racismo estrutural da sociedade. Além dele e Marcão, apenas Hemerson Maria, do Botafogo-SP, figura como negro em função de comando entre 40 clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro. “A gente tem mais de 50% da população negra e a proporcionalidade [entre treinadores] não é igual. Temos de refletir e questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que 70% da população carcerária é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Por que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras? Há diversos tipos de preconceito. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado.”

Desde que pendurou as chuteiras e começou a se preparar para virar técnico, Roger Machado nunca se omitiu de falar sobre racismo. No entanto, seus posicionamentos mais marcantes, como o discurso no Maracanã, coincidem com a chegada ao Bahia, clube pioneiro no país ao criar um núcleo de ações afirmativas e que levanta a bandeira, em diversas campanhas de responsabilidade social, contra a discriminação étnica, de raça e de gênero.

Esporte Clube Bahia @ECBahia
 
 

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