Estresse pode deixar os cabelos brancos, revela estudo
06/06/2018 12:08 em Saúde

 

Cabelos brancos, se aparecem com a idade, são considerados um sinal de sabedoria. Mas, se despontam cedo demais, são creditados ao estresse. Existe verdade nessa crença popular: enquanto a genética é o principal fator associado ao surgimento de fios grisalhos, o sistema imunológico também pode embranquecer a cabeleira, em decorrência de doenças ou de estresse crônico.

 

Em estudo publicado na revista Plos Biology, pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) e da Universidade do Alabama descobriram uma conexão entre os genes responsáveis pela produção de melanina - o pigmento que dá cor aos pelos e à pele - e aqueles envolvidos na ativação do sistema imune. Os testes, feitos em camundongos, mostraram que, nos animais com predisposição genética para desenvolver fios brancos, uma infecção viral simulada causou o surgimento de um número considerável deles. 

Segundo os autores, isso acontece devido à destruição das células que produzem o pigmento, os melanócitos, e das células-tronco que as originam, os melanoblastos. O estudo sugere que, sob estresse crônico, as defesas do organismo vão atacando essas estruturas. Os resultados podem ajudar a entender o que desencadeia doenças como o vitiligo, nas quais o sistema imune tem um papel importante. Além disso, conhecer o mecanismo é um passo importante para descobrir formas de evitar os cabelos grisalhos prematuros e para reparar doenças degenerativas relacionadas às células-tronco em geral, alegam os autores. 

A ligação encontrada entre as defesas do organismo e a pigmentação está em uma proteína chamada de MITF, sigla em inglês para fator de transcrição associado à melanogênese. “Fatores de transcrição são proteínas que dizem para a célula quais genes ativar e quando ativá-los”, explica Melissa Harris, da Universidade do Alabama, principal autora do estudo. 

Enquanto a função primordial do MITF é “ligar” os genes responsáveis pela produção de enzimas relacionadas à pigmentação, os pesquisadores descobriram que ele também suprime a resposta imune de melanócitos e melanoblastos. 

“Nós ficamos curiosos. Por que haveria uma razão para isso? Por que seria algo ruim ativar o nosso sistema imune? Ele deveria ser bom, não é?”, diz Harris. “Bem, nós descobrimos que, ao ativar artificialmente a resposta imunológica em camundongos predispostos a terem pelos grisalhos, o número deles aumentou significativamente.” 

Os cabelos brancos surgem quando há a morte de melanócitos e melanoblastos. No momento em que o sistema imune é ativado, essas células liberam substâncias que pedem ajuda aos linfócitos T, que são responsáveis por destruir as estruturas infectadas por vírus ou bactérias. Esses soldados, porém, podem se confundir e atacar as células que pediram ajuda. Uma vez que os melanoblastos - as células-tronco - morrem, não há como a cor retornar. É justamente para evitar esse ataque que o MTIF reduz a resposta imune. 

“Todo o trabalho foi feito em camundongos, por isso nós hesitamos em fazer muitas inferências para humanos antes de ter mais estudos”, afirma Harris. “Porém, nós adoraríamos testar se esse mecanismo pode explicar as histórias de pessoas com cabelos grisalhos prematuramente. Será que uma combinação de predisposição genética e uma infecção viral seria o suficiente para causar isso?”, questiona. 

Tratamentos 

“São resultados muito interessantes, porque tem muita pesquisa sobre isso e também muitas reclamações no consultório sobre cabelos brancos”, afirma Bárbara Uzel, dermatologista do Hospital Anchieta e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Para que o melanócito seja danificado, a chave está no sistema imune, no gene que rege essa reação.” Segundo a médica, isso cria esperança para o desenvolvimento de tratamentos. “Talvez essa seja a segunda maior queixa dos consultórios, logo atrás da queda de cabelo. A ideia é buscar a prevenção, e não tentar reverter o quadro depois que o cabelo fica branco.” 

Porém, é preciso tomar muito cuidado com novos tratamentos, para garantir que eles não causem problemas maiores, alerta o dermatologista Caio Castro, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Tudo que mexemos no organismo, pode dar errado em outro lado. Já está descrito que algumas variações do gene que codifica o MTIF estão relacionadas ao melanoma, um dos tipos mais graves de câncer. Dependendo do medicamento criado, o ideal seria verificar se o paciente tem essas variações”. 

Em relação ao melanoma, segundo Harris, os resultados do estudo podem ajudar a entender como esse tipo de câncer consegue enganar a resposta imune do organismo. É possível que as células possam tirar vantagem do efeito imunossupressor do MTIF para se esconder da proteção natural, afirma a pesquisadora. 

Além de continuar essa linha de pesquisa, os cientistas pretendem usar o surgimento de pelos grisalhos em camundongos para estudar também o envelhecimento de células-tronco. “Estamos interessados no papel dessas células nas características relacionadas ao envelhecimento, nos mecanismos celulares e genéticos que levam ao envelhecimento delas, além dos fatores que levam à perda da sua manutenção. Nossas descobertas podem oferecer uma luz para abordagens que previnam a degeneração de células-tronco e melhorar a forma como nós envelhecemos.” 

Fonte: site Uai

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